terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Ter e querer



Eu conseguia nos ver juntos
Conseguia em mim te ter
Mas aí percebia que a gente
No amor não pode escolher

Sempre inabalável, incansável
Eu gostava de te ver
Fugia de outras pragas
Pra te ver

A esperança cai
Não quero não te querer
Mas se sei o que não o posso ter
Então detesto te querer.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

É Proibido Sentir



Dizem que não dá pra se preocupar
Com depressão e com mal-estar
Tudo o que se pensa é em trabalhar
É só isso que o sistema nos deixa fazer
Trabalhar

Porque reprimir-se se torna sinônimo
De força, de foco, de fé
O coração não mais tem
Permissão
De interferir nas atividades cerebrais

Quem ama é fraco
Quem ignora é forte
Quem morre é bobo
Suicida leva esporro
Pobre não morre, deixa de existir

O mundo não me deixa ter sentimentos
O mundo é que me deprime
O mundo nos quebra
Mas diz que a culpa é nossa
Que somos fracos e irresponsáveis

Mas não faz parte de nós
Todo e cada coração?
Não somos humanos?
Não amamos?
Não cansamos?

Morte aos sentimentos!
Sejamos robôs!
Existirmos a vivermos!
Trabalharmos a sonharmos!
Morrermos e sermos substituídos!

Substituídos porque somos números!
Não somos únicos
De insubstituíveis
O cemitério está cheio!
Cheio de sonhos!

Mas onde mesmo eu estava?
Nos sentimentos, é claro
Não os conheço mais
Estamos afastados
Só penso no trabalho

Só trabalho, sem prazer
Só reprodução, sem amor
Só preço, sem valor
Só o sistema, sem quem sou.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A puta.



Uma prostituta jogada aos leões.
Caçada, amordaçada e amaldiçoada.
O que o homem não faz
Pela hipocrisia da boa conduta?

A mulher é subjugada, tida como impura
Jogada ao apedrejamento, ao esquecimento
Maldita libertinagem, eles dizem
És uma mulher direita, e não uma puta

Sou uma puta sim
Com muito orgulho, sou uma mulher livre
Aquele que se nega a enxergar
Está condenado a se enganar

A prostituta foi jogada aos leões
Ouviu-os berrarem absurdos
Sobreviveu graças a seus escudos
Fugiu quando tudo ficou escuro

Escolhida para matar
Ela se olha no espelho e só se vê a chorar
Não de medo, não de tristeza
Mas de ódio, e de vontade de matar.

A prostituta não mata leões
A prostituta muda os leões
Eu sou sim uma puta
Com muito orgulho, sou uma puta
Uma puta, uma mulher, um ser humano
Livre.

domingo, 10 de novembro de 2013

A Virgem



Rodeada de incertezas
Mas cheia de esperanças
A virgem caminha acesa
Esperando que fiquem somente
As boas lembranças.

Ela não é pura
Nem insana
Mas gosta de loucura
De uma boa dança
Uma boa lembrança.

Caminhando, a intrusa, a estranha
Adentra as portas da barganha
É um mundo estranho, caro
Mas ao mesmo tempo formidável,
Interessante e barato.

A virgem caminha intensa
Está confusa e surpresa
Fascinante este lugar!
Fuga da realidade,
Refúgio da estranheza!

É um bordel
Sim, a virgem está num bordel
Aconchegante, luxuoso, penetrante
Mas na verdade não
É bem, na verdade, intrigante.

Mas estranhas são as aparências
Que não são enganosas ou rudes
Assim como honestas são as atitudes
Integridade, liberdade
Malcriagem, identidade

A virgem tem uma desilusão
Tudo de repente é uma negação
Aquilo a assusta
É eterna a escuridão!
Fundo do poço de um coração!

Injustiça com a virgem, que volta tensa
O mundo, as ações, a coragem a correr
Ela é pura demais, detesta saber
É quase uma santa
Apenas mais uma rebelde noviça a descrer

A virgem corre do bordel
Foge correndo para o céu
Continuará assim, virgem
Pois seu corpo é seu réu
E seu amor está no céu.

Quem é a virgem, afinal?
Por que ela virgem há de ser?
É uma falsa puritana
Uma cortesã escondida
Desgraçada, quebrada e polida.

sábado, 2 de novembro de 2013

Discurso



Desgostosa mas cheia de ideias
E levada a crer que me entendem
Mas sei que só esperam
Pelo próximo
Mais interessante
Mais contagiante
Só extravagante.

sábado, 26 de outubro de 2013

Dor de Cabeça




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 *
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Angústia lúcida
Estranha dor única
Consciente loucura
Tão ardente que
Me parece a cada minuto que
Minha cabeça há de explodir
Junto com minha mente
E com minha sanidade.